ir real, vir tual – Pedro Sim – Zine Paisagem 2
A Feira Paisagem é um espaço que valoriza a arte gráfica independente, servindo como plataforma para troca, venda e disseminação de produções gráficas e editoriais, como zines, livros, pôsteres e outros impressos autorais. Desde sua criação em 2017, no Brasil, a feira tem se dedicado a promover a cultura da arte gráfica e formar redes culturais que valorizam essas produções. Com a chegada à cidade de Guimarães, Portugal, em 2022, a Paisagem expande sua presença e hoje explora novos horizontes tecnológicos como NFTs e blockchain, unindo o mundo físico ao digital.
Este movimento não é apenas uma questão de acompanhar tendências tecnológicas; trata-se de abrir portas para novas formas de expressão e distribuição para artistas gráficos, facilitando a criação de pontes duradouras entre a obra física e a experiência digital.
NFTs (tokens não fungíveis) representam uma maneira de conferir autenticidade e exclusividade a arquivos digitais, uma questão vital para artistas gráficos. Com a aplicação da tecnologia blockchain, cada NFT é como um “certificado digital” que garante a unicidade e autoria de uma obra. No caso de produções independentes, como as expostas na Feira Paisagem, os NFTs atuam como uma extensão digital de uma obra impressa, adicionando camadas de significado e valor.
Por exemplo, em vez de um simples pôster ou zine impresso, os artistas podem oferecer uma versão digital com conteúdos exclusivos, como artes em alta definição ou até edições com camadas interativas, permitindo aos colecionadores uma experiência mais rica. Assim, o público passa a ver a obra além do físico, com a possibilidade de criar uma comunidade digital em torno dela.
Certificação Digital e Autenticidade: A numeração manual de impressões limitadas sempre foi uma forma tradicional de valorização das obras. Os NFTs replicam essa prática no universo digital, criando uma certificação imutável e pública da obra que é registrada na blockchain. Esse registro não pode ser alterado ou destruído, e o NFT permanece único, garantindo o valor e a procedência da obra.
Royalties Perpétuos: Artistas independentes enfrentam o desafio de manter a valorização de suas obras ao longo do tempo. Com NFTs, é possível programar royalties que garantem ao artista uma porcentagem de cada revenda subsequente. Isso significa que o valor gerado pela obra volta ao criador cada vez que ela é vendida, ajudando a construir uma renda contínua. Muitos marketplaces de NFTs, como OpenSea, suportam royalties automáticos, o que garante essa prática sem necessidade de intermediários.
Preservação e Evolução do Trabalho: As edições híbridas que incluem NFTs permitem que o conteúdo digital da obra evolua. Por exemplo, ao adquirir uma edição NFT de uma publicação da Feira Paisagem, o colecionador pode acessar atualizações, conteúdos extras ou mesmo participar de eventos digitais. Isso transforma a relação com a obra em algo dinâmico e permite que o artista ofereça novas interpretações e experiências ao longo do tempo.
Meta Paisagem funciona como um laboratório digital que permite aos artistas experimentarem a fusão entre o físico e o digital, de maneira acessível e criativa. Através dessa iniciativa, o evento cria um ambiente onde as tecnologias Web3, como NFTs, são apresentadas de forma prática, sem complexidade técnica.
Os artistas participantes do Meta Paisagem podem, por exemplo:
Experimentar Criações Híbridas: Criar uma versão NFT de uma obra impressa, permitindo que o público explore conteúdos digitais complementares.
Explorar Colaborações e Novas Linguagens: Trabalhar em parceria com outros artistas, explorando meios digitais e técnicas tradicionais de maneira integrada, oferecendo um projeto que dialoga entre o impresso e o digital.
Interagir com o Público: Através de NFTs, é possível criar comunidades exclusivas onde os proprietários de determinado NFT têm acesso a discussões, conteúdos exclusivos e até convites para eventos especiais.
Apesar das preocupações iniciais com o impacto ambiental das blockchains, o cenário evoluiu significativamente. Hoje, muitas blockchains utilizam tecnologias que diminuíram drasticamente o consumo de energia, tornando-as mais sustentáveis. A blockchain Solana, por exemplo, é uma das alternativas de baixo impacto ambiental, e a atualização Ethereum 2.0 reduz em até 99,9% a energia necessária para transações, possibilitando que artistas trabalhem com NFTs de forma ecologicamente responsável.
Essa eficiência é significativa, sobretudo em comparação com métodos de produção gráfica tradicionais. A produção de papel, por exemplo, requer grandes quantidades de água e energia: Segundo Water Footprint Network, para cada folha de papel A4 produzida, o gasto médio de água gira em torno de 10 litros, e as etapas de extração e refinamento da celulose podem chegar a demandar até 100 mil litros de água. Além do alto consumo hídrico, a fabricação do papel impacta também os ecossistemas fluviais, prejudicando a qualidade dos córregos próximos às áreas de extração.
A Feira Paisagem está, assim, explorando possibilidades onde as obras físicas e digitais coexistem e se complementam. Esta abordagem não busca substituir o impresso pelo digital, mas oferecer ao público novas maneiras de interagir e valorizar a arte impressa. Ao incorporar NFTs, a Paisagem pode expandir seu público e permitir que as suas criações provoquem sensações tanto no papel quanto no ambiente digital, facilitando um engajamento contínuo e sem fronteiras.
Com a rápida evolução tecnológica, os conceitos de publicações híbridas e experiências phigital estão se tornando cada vez mais dinâmicos e acessíveis. O uso de NFTs já permite uma variedade de integrações com ferramentas digitais, enquanto desenvolvedores de soluções Web3 buscam tornar essas tecnologias mais acessíveis e amigáveis para artistas de todos os níveis de experiência.
A Feira Paisagem, com seu compromisso inclusivo e experimental, propõe um ambiente fértil para que artistas gráficos explorem e inovem dentro desse campo, favorecendo uma abordagem sustentável e criativa.
Ao incorporar inovações tecnológicas como NFTs e ferramentas Web3, propomos aos artistas gráficos uma nova dimensão para expandir suas criações, onde o impresso e o digital interagem para enriquecer a experiência do público. Não se trata de uma escolha entre o físico e o digital, mas de explorar o valor único que cada formato pode agregar. Dessa forma, a Feira cria um ambiente propício para experiências criativas que mesclam tradição e inovação, incentivando artistas e público a descobrir novas formas de interação e engajamento com a arte independente.